sexta-feira, dezembro 27, 2024
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Literatura infantil é ferramenta para estabelecer diálogo antirracista

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“Sobre a cabeça a partir do corpo de que ela mais gosta ostenta seu enorme cabelo crespo sempre com um penteado chamado Black Power”. Quem conta a história que acabamos de ouvir, do livro O mundo no black power de Tayó, é a autora Kiusam de Oliveira.

A literatura infantil é uma das ferramentas para estabelecer diálogos antirracistas com a criança, seja na escola, seja na rua, seja em casa com a família.

Desde que a Lei 10.639 foi aprovada, há onze anos, o ensino da história e da cultura afro-brasileira se tornou obrigatório na rede de ensino do Brasil. De lá pra cá, o mercado editorial de livros infantis voltados para enfrentar os desafios contra o racismo tem crescido significativamente.

Num país em que 55% da população se reconhece como negra ou parda, segundo os dados do Censo 2022, autoras e autores negros que contam histórias afrocentradas levam para as páginas dos livros brasileiros destinados aos pequenos temas como ancestralidade, respeito, beleza e empatia.

Doutora em educação, a escritora Kiusam de Oliveira recebeu “não” de editoras quarenta e nove vezes, até ter o seu primeiro livro infantil afrocentrado aceito, em 2009.

Quinze anos depois, com mais 18 livros publicados e traduzidos em outras línguas, Kiusam é reconhecida nacionalmente por escrever histórias de encantamentos de princesas africanas e dar vida a personagens que têm orgulho do cabelo crespo com penteado black power.

Para ela, a literatura Infantil é um importante instrumento para iniciar um diálogo sobre o racismo com as crianças.

Com 61 anos, a escritora infantil Waldete Tristão também é uma feiticeira das palavras. Finalista do prêmio Jabuti de 2021, considerado o maior da literatura brasileira, Waldete traz as histórias dos mitos africanos e a sabedoria das plantas do quintal da sua infância para falar de antirracismo com as crianças.

“Não basta que o personagem seja negro. Ele tem que ter demonstrar essas características de forma positiva, valorosa, bonita pra que a criança negra se veja naquele personagem e a criança branca saia daquele lugar hegemônico que historicamente tem sido dela.”

Histórias infantis contadas por Kiusam, Waldete e tantas outras autoras negras brasileiras caem nas mãos de famílias como a da artista e professora Raquel Santos. Mulher negra, mãe de Samuel, de 16, e Laura, de dez, Raquel leva para a casa e para a sala de aula livros em que as crianças possam se identificar e imaginar outros caminhos para as suas próprias histórias.

Autoras e histórias que narram aventuras, dramas e aprendizados para que não só as crianças, mas também os adultos, aprendam com olhar sensível e antirracista a fortalecer a cultura, a educação e a identidade afrobrasileira.


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